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Bonecas negras

Olá, bem vindo ao Blog ! conheça nosso projeto de confecção de bonecas étnicas de Londrina.

Este blog tem o principal objetivo de divulgar as bonecas negras como um objeto de vivência. A sua confecção se dá através de oficinas e mini cursos realizados nas escolas.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Texto sobre minhas bonecas .... a importância do acompanhamento e construção...

O tecido de chita cruzou mares, vestiu o povo, cobriu colchões, enfeitou mesas e janelas a história deste tecido não é muito recente, ela surgiu com o padrão de estampas na Índia e chegou ao Brasil por volta de 1800. Foi no Brasil depois que a coroa portuguesa permitiu a impressão de tecidos e papel no país que surgiram novas releituras da chita, as estampas sempre foram de grande e pequenas flores conquistando as camadas mais pobres da população, era os tecidos das saias das escravas, tecido da camada pobre, um tecido muito barato. Passou a integrar-se ao folclore nacional e ficou conhecida, depois da fase do vestuário em cortinas e almofadas. Por ela ter as cores aparentemente puras, as estampas dão um ar de ingenuidade. é um tecido que traz um pouco da trajetória da alma brasileira. Passado, presente, trabalho, castigo, festa, criação, arte, infância, malícia e uma alegria descarada se combinam nas cores e misturas descontroladas das estampas, que vestiram escravos, camponeses, tropicalistas, personagens de literatura, sem perder uma das maiores de suas características a inocência.
Em minha casa sempre existiu a chita era o tecido mais atraente da casa, ela fez parte de minha infância, assim como fez parte da infância de milhões de pessoas em todo pais. Eu sempre ganhava alguma coisa desse tecido, era vestido, saia até pijama e quando crescia que essas roupas não serviam mais em mim , elas viravam outra coisa, desde capa de botijão a pano de copa, mas o que mais me importava era as possíveis bonecas coloridas, elas não tinham roupa nem rosto a chita era o envolto de seu corpo, era a vestimenta e o corpo nu ao mesmo tempo.
Quando decidi pela costura como processo de criação artística, agreguei de certa forma alguns valores, que existiam nas bonecas que minha mãe fazia, e que minha avó e bisavó também carregavam neste fazer. Elas colocavam nessas bonecas um simbolismo de valores alicerçados na cultura do fazer manual do valor do trabalho feito à mão como objeto de existência e de valor talvez uma recriação de sua própria história. Os retalhos utilizados na construção dessas bonecas vem dialogar com as fases da vida e neste caso, cada emenda de retalho serviria para datar um ciclo de vida, um ciclo de experiências seja elas boas ou ruins. Neste caso essas bonecas traziam a tona a memória dos cantos de minha mãe a cada ponto que ela dava para emendar o tecido, era um ritual de todos os dias a tarde, ela se sentava fora de casa no quintal me colocava nos seus pés e eu observava , as mãos calejadas transpassando o tecido colorido que aparentemente estava sem vida, apreciava a forma que ia ganhando, tudo isso ao som da sua voz, cantando enquanto costurava.Como não tínhamos televisão esse era meu melhor passatempo, foi a melhor faze da minha vida.Elas serviram como registro de uma parte de minha vida.Como minha mãe não sabe ler e nem escrever, ela sempre usava desses artifícios para se lembrar de alguns períodos de nossas vidas. A leitura de uma maneira geral nunca lhe fez falta, mas ela precisava criar um vinculo um livro que poderia ser lido por ela toda vez que sentisse falta da infância de seus filhos e o caminho encontrado foi na costura dessas bonecas.

O que é vivenciar ? para ensinarmos e aprendermos é necessário vivenciar melhor. A minha experiência com Boneca de pano

Bonecas que falam, retalhos de chita


Que Chita Bacana
Sou bonita e faceira, nasci na Índia
Para o mundo conquistar
Deserto atravessei
Cruzei as ondas do mar
Na epopéia uma viagem fascinante
Na Europa deslumbrante então cheguei
No Chá das cinco porcelanas decorei
Através dos portugueses
No Brasil desembarquei
Desbravando esta terra na imensidão
Me pintei com o colorido deste chão
Com a fauna e a flora, ergui sua bandeira
Sou a Chita Brasileira
Com fé cultivei a esperança
Num sorriso de criança
O palhaço colori
Vesti cortejo do Maracatu
Dancei em quadrilhas de São João
Na Festa do Divino minha devoção
O movimento Hippie representei
Com o Velho Guerreiro buzinei
Na Tropicália fui à sensação
Conquistei de vez esta nação
Sou a Chita Bacana a brilhar
No batuque da Estácio de Sá
Sou o samba raiz, felicidade
Com a força da Comunidade
G.R.E.S. Estácio de Sá Samba Enredo 2009