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Bonecas negras

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Este blog tem o principal objetivo de divulgar as bonecas negras como um objeto de vivência. A sua confecção se dá através de oficinas e mini cursos realizados nas escolas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NEGRO E A RELIGIÃO - MITO CAMÍTICO

Origens, modalidades e formas de racismo

Por Martiniano JSilva*

Do racismo explícito da Antiguidade ao racismo mascarado à brasileira, os períodos históricos revelam-se interessantes para a compreensão da desigualdade entre os homens
Apresentar as várias modalidades de racismo, e suas formas de atuação, no Brasil e na diáspora contra povos negros ou não, exige, de início, que se tente desvendar as suas origens históricas e o seu polêmico significado.
Há pelo menos três maneiras de abordar o racismo: a atitude histórica, que considera o racismo uma ideologia que se constituiu apenas no século XIX, quando a idéia de raça, em sentido biológico e genético, tornou-se critério social e político de diferenciação; a atitude a-histórica, que considera o racismo uma forma milenar e difusa de estabelecer diferenças, classificações e hierarquias entre os seres humanos; e a atitude que opera com análise de ideologias e as considera temporais e dinâmicas, portanto, sujeitas a transformações históricas, de tal modo que o racismo difuso dos gregos e romanos, na Antiguidade, ou o racismo explícito do século XIX, sejam momentos de uma história ideológica.
Nota-se também que há divergências sobre a origem da palavra raça, da qual se deriva racismo, com as suas implicações ideológicas, linguísticas, históricas, genéticas etc., chegando a se justificar em fundamentos consuetudinários, jurídicos, econômicos, religiosos e científicos.
Para alguns historiadores, o racismo surgiu com o colonialismo, sendo filho, portanto, das imposturas e indecências do capitalismo. Eric Willians chega a dizer que “a escravidão não nasceu do racismo; ao contrário, o racismo foi a consequência da escravidão” (3). O próprio vocábulo racismo que o mestre Aurélio registra como doutrina que sustenta a superioridade de certas raças, resulta da falsidade científica defendida por inveterados racistas, destacando-se, entre outros, o conde Arthur Joseph de Gobineau, H. S. Chamberlain e Robert Knox, cujas obras editadas no século XIX cristalizaram o chamado “racismo científico”. Vale dizer que os principais teóricos do racismo, no âmbito ideológico-científico, são o francês Gobineau e o inglês Chamberlain, daí racisme e racismo, registrados por Aurélio.
No século passado, o etnocentrismo euro-ocidental destacou-se como uma perigosa arma ideológica a serviço do imperialismo, mas o estigma contra os negros tem origens bem mais remotas. Há uma idéia negativa e convenientemente elaborada a respeito dos povos negros com raízes na Antiguidade clássica, conforme assinala o insuspeito Kapengele Munanga. De acordo com esse pensamento, os seres humanos negros não se transformaram em escravos apenas por causa da cor ou da diferença de cores e o racismo não decorreu somente do interesse econômico – no qual aliás alcança níveis e requintes os mais absurdos e cruéis.
As raízes históricas do racismo antecedem o regime escravocrata e a sociedade de classes. Muito antes dessa fase, incrivelmente acumuladora de capital, a própria história grega já tratava os negros como verdadeiros monstros. Sobre os negros africanos, escreveu o historiador grego Heródoto: “São seres que se alimentam de gafanhotos e de cobras, partilham as mesmas esposas e se comunicam através de gritos agudos, como os morcegos” . Ainda nesse sentido, o etnólogo Kapengele Munanga afirma: a “(…) idéia de gente sem cabeça ou com chifre na testa, com cabeça no peito ou com um olho na testa, gente com o rosto do cão faminto e coisas desta natureza dominam os escritos ocidentais sobre a África nos séculos XV, XVI e XVII”.

Na ciência, no âmbito filosófico, na teologia etc., a velhíssima idéia perversa e maligna contra os negros não é muito diferente, como se pode verificar no pensamento político e filosófico de luminares da Antiguidade. Aristóteles, por exemplo, que minimizou tanto a mulher ao ponto de chamá-la de “homem imperfeito”, interpretou a escravidão como algo que faz parte da natureza e mencionou duas raças de homens: uma para mandar e ser servida, outra para servir e ser dominada. Para ele, o escravo nasceu para ser escravo e é na sua função de escravo que realiza a finalidade para a qual existe. Vai mais longe: vê no escravo apenas um instrumento vivo, que não tem direitos perante quem o utiliza.
Certos interpretadores de nossa história social, de tão comprometidos com os interesses dominantes, confirmam esse pensamento ao defender a tese de que seríamos um povo cordial e conformado.
Os escritos dos sábios talmúdicos do século VI, portanto anteriores à “descoberta” da África e à dominação das Américas pelos europeus, também transmitiam uma idéia negativa a respeito dos povos negros. Eis um texto infamante: “E já que você me desrespeitou (…) fazendo coisas feias na negrura da noite, os filhos de Canaã nascerão feios e negros! Ademais, porque você torceu a cabeça para ver a minha nudez, o cabelo de seus netos será enrolado em carapinhas e seus olhos serão vermelhos; outra vez, porque seus lábios ridicularizaram a minha má fortuna, os deles incharão; e porque você descuidou de minha nudez, eles andarão nus, e seus membros masculinos serão vergonhosamente alongados! Os homens dessa raça serão chamados negros, seu ancestral Canaã os mandou amar o roubo e a fornicação, juntarem-se em bandos para odiar os seus senhores e nunca dizer a verdade” .
Essa aviltante e incrível imagem atribuída aos negros, que a participação religiosa, por irônico que pareça, só conseguiu “complicar”, nos remete a velhos argumentos de natureza lendária. Segundo uma lenda hebraica, nascida do mito camítico, os negros africanos descendem de Cam, filho de Noé, que foi amaldiçoado pelo pai por causa de sua irreverência para com ele, ao assumir uma postura indecente. Por isso destinou-se ao sofrimento (“saber sofrer é uma forma de ser feliz”, dizem “demiurgos” e anacrônicos escravistas) no tórrido e horrível continente africano, como aliás assevera o livro bíblico: “Amaldiçoado seja Canaã; dos seus irmãos será o mais vil dos escravos” (cf. Gn 9, 27).
Mesmo sem retomar o pensamento da Antiguidade ou da Idade Média, é fácil concluir que não há contradição em ser cristão e proprietário de escravos – e mantê-los à abundância em fazendas pertencentes a instituições religiosas. (Aliás, a escravidão presente em grande parte do texto bíblico já mereceu tese de doutoramento: “A escravidão na Bíblia”, de Calisto Vendrame, 1981). Pode-se então afirmar que o escravismo mediterrâneo, conforme elucida Jacob Gorender (8) provém de expressões literárias e ideológicas de dois povos diferentes: os judeus e os gregos. O Eclesiastes, por exemplo, um dos livros do Antigo Testamento, recomenda que se dê “ao escravo pão, correção e trabalho”, o que obviamente não difere do ensinamento do festejado pensador Aristóteles, que apontou três coisas a serem consideradas no escravo: “o trabalho, o castigo e o alimento”.
É forte e infamante esse estigma contra os negros, tanto de um lado como de outro do Atlântico. No primitivo e mais remoto processo de valorização das cores, a negra ou “preta” foi maldosamente identificada com o Diabo, inclusive no ambiente religioso, passando a representar, pelo mundo afora, o mais lídimo chefe dos demônios, o mais arguto gênio do mal e, até os nossos dias, tudo o que existe de ruim, todo tipo de miséria. Por isso, os altos valores históricos, religiosos, ideológicos, éticos, estéticos etc. seriam exclusivamente brancos. Em suma, o fenômeno denominado “cultura”, seja de ordem material, seja “espiritual”, para ser reconhecido, ter valor e prestígio precisa estar identificado e de acordo com os desejos “santos” dos povos brancos. Certamente por esse motivo, até hoje o negro é a representação de quem não entra no céu. Os versos a seguir, declamados com frequência no sudeste de Goiás, ilustram a assertiva:

Negro não vai pro céu,
nem que seja rezador.
Quem tem cabelo duro
Espeta Nosso Senhor.

Essa idéia difundida nas Américas com o rótulo de “inferioridade africana” é denominada racismo individual por quase todos os autores, e dela derivam outras modalidades, destacando-se o racismo institucional e o cultural , temas que já fazem parte de estudos de psicologia social em vários países, como os Estados Unidos.
O racismo individual, ou a modalidade individual, evidencia-se nos esteriótipos mais estranhos, nas atitudes, nos comportamentos e até nos interesses pessoais que estão socializados entre brancos, negros e indivíduos de outros segmentos sociais (somos um povo de “mente colonizada”).
O racismo institucional, ou modalidade institucional, é claramente demonstrado em dados oficiais, como os fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O negro, o índio, o judeu, o cigano, os retirantes, os bóias frias, os garimpeiros, os peões, os mendigos, os bêbados, os gigolôs, os homossexuais, a mulher – sobretudo negra – e toda sorte de marginalizados, destituídos e enjeitados são oculta ou abertamente discriminados em nosso sistema de trabalho, na Justiça, na Economia, na Política e nas demais instituições.
O racismo cultural, ou modalidade cultural, que traz elementos do racismo individual e do institucional, manifesta-se nos valores, nas crenças, na religião, na língua, na música, na filosofia, na estética etc. Exemplos clássicos foram as atitudes que extirparam e eliminaram a cultura indígena, como as leis portuguesas – e portarias, bandos, avisos, ordens –, destacando-se a provisão de 1727, que proibia o bilinguismo no Brasil – e, consequentemente, impedia que o índio falasse a sua própria língua, denominada “língua geral” pelos jesuítas. Como não poderia deixar de acontecer, essa língua geral – guarani, tupi da costa, nheengatu, ou “língua boa”, que é como os índios chamavam a sua fala, que haveria de ser a nossa – foi dizimada pelo sistema repressor colonial-imperialista.
Pierre André Taguieff, citado pela brilhante Marilena Chauí (10), ao escrever sobre o novo nacionalismo racista distingue três níveis de racismo – primário, secundário e terciário – dois grandes tipos de racismo contemporâneo – universalista, ou discriminatório, e comunitarista, ou diferencialista.
O racismo primário é um fenômeno psicossocial, emocional ou passional, sem qualquer elaboração ou justificação; corresponde ao que chamo de mito. Há uma mitologia racista, que é um estado de espírito passional, irracional, que exprime medo e cólera, terror e ódio. O racismo secundário, que consiste no etnocentrismo, é um fenômeno psicossocial mais sofisticado. O racismo terciário é o que desenvolve justificativas científicas – no século XIX e início deste século, a justificativa vinha da biologia e da genética; atualmente, vem da antropologia e da psicologia social. Curiosamente, esses três níveis de racismo têm como adversários argumentos anti-racistas que, na maioria das vezes, são também racistas.
Assim, além dos níveis demonstrados, o discurso racista se distribui em tipos, conforme ensina Taguieff: o racista universalista, filho bastardo da Revolução Francesa, ou do que os marxistas chamam de revolução burguesa, que se fez presente sobretudo no século XIX e no século XX, até os anos 1960; e o racista comunitarista ou diferencialista que, segundo os autores citados (11), se evidência sobretudo no final deste século, como filho bastardo do pós-modernismo. Também, estranhamente, estes dois tipos são legitimados pelos discursos anti-racistas. Ainda conforme Marilena Chauí e Taguieff, vejamos o que são tais discursos. Racismo universalista ou discriminatório é o que “(…) afirma a existência de um modelo universal de humanidade numa escala hierárquica de espécies ou raças, que vão da mais inferior à superior; afirma a naturalidade da desigualdade e da hierarquia de raças. Este racismo, biológico e etnocêntrico (pois a raça superior é a minha), presidiu a formação dos impérios coloniais, a escravatura, o nazismo e o fascismo. Seus axiomas são: a desigualdade é natural e nós somos os melhores; existe um único e verdadeiro tipo ou raça humana e somos nós. Como diz um autor, os outros pertencem a raças particulares e nós pertencemos e somos o universal. Os outros são não humanos, semi-humanos ou quase-humanos. Nós somos os humanos e a humanidade. Exterminar o outro é natural e não é eticamente imoral, pois o outro não faz parte do gênero humano”.
E racismo comunitarista ou diferencialista: “(…) é o racismo contemporâneo que se apropriou dos pontos centrais do anti-racismo, isto é, que raça não é natureza, mas cultura ou etnia, e que todos temos o direito à diferença. Agora, afirma-se o caráter sagrado da comunidade, a identidade do grupo ou da nação, a obrigação de defender a integridade, a identidade e a especificidade da nação ou comunidade e, portanto, sua diferença. Cada comunidade-nação tem sua tradição, sua história, seus costumes, sua origem, sua língua, sua religião, sua sexualidade – essa diferença tanto pode ser genético-hereditária quanto puramente histórico-cultural, pois o importante não é a causa ou origem dessa diferença e sim sua existência visível (vejo a diferença da cor da pele, da textura da pele e do cabelo, dos gestos culinários, do modo de vestir, do formato dos olhos, dos deuses adorados, das formas de parentesco e de casamento, da música, da dança, da pintura, dos modos de pensar, a diferença é um fato dado, o outro é um fato dado). Ora, cada comunidade-nação (pode ser tomada como mito e não como criação histórica) tem sua verdade própria, milenar, tem sua língua materna, seus símbolos pátrios, seus costumes. Cada Estado-nação existe, desde todo o sempre, como uma realidade cultural inquestionada. É obrigação de cada um deles preservar sua diferença, sua alteridade, sua autenticidade. Portanto, somos contra a imigração, a migração, a mestiçagem, o sincretismo religioso, o sincretismo nas artes, a importação de idéias, pois tudo isto retira de nossa comunidade nacional sua vida verdadeira. Se os imigrantes, os migrantes, os negros, os índios, os judeus tiverem amor à sua diferença e à sua comunidade, serão os primeiros a concordar conosco.
Como a negritude, como a indianidade, como a orientalidade, como o arabismo e o judaísmo haverão de permanecer em sua pureza e integridade, se deixarmos imigrações, migrações e miscigenações acontecerem? Para o nosso bem e para o bem dos outros, respeitemos o direito democrático à diferença. Sem dúvida, somos desiguais e ninguém há de negar que alguns são superiores a outros, mas ninguém precisa ser exterminado, desde que não venha contaminar a minha diferença. Os movimentos nacionalistas ganham a tonalidade do fundamentalismo religioso porque a religião é a mais pura e autêntica guardiã da raça – muçulmanos (e suas divisões), católicos (e suas divisões), ortodoxos, judeus, budistas, cada religião exprime a nação e a raça, no mesmo momento em que o Estado nacional está desaparecendo” .
Quer dizer, o racismo universalista, etnocêntrico, rumava para a escravatura e para o genocídio, efetivando a violência física, fundado nos valores mais caros à democracia nascida da Revolução Francesa: o indivíduo e a universalidade; enquanto o discurso racista comunitarista e/ou diferencialista é xenófobo e prefere formas legais de separação e exclusão, “para não ter que chegar à violência do genocídio” (14), fundado, por ironia histórica, nas duas principais armas que as minorias criaram para sua autodefesa anti-racista: a comunidade e a alteridade. O primeiro efetivou principalmente a violência física, trazendo o genocídio, e extermínio; enquanto o segundo, embora alcance o mesmo objetivo, age de maneira simbólica, incrivelmente disfarçada. Apesar de históricos e conceitualmente diferentes, todos os racismos, consoante os autores citados, “(…) possuem em comum a idéia da nação una e indivisa no espaço e no tempo; a idéia de raças inferiores e superiores por hereditariedade; o conservadorismo reacionário, antidemocrático e autoritário. São ideologias etnocêntricas e xenófobas.
São ideologias biológicas, psicológicas e políticas. São nacionalistas e erguem mitos nacionais, operam com a identidade nacional mítica, o caráter nacional mítico”.
Realmente, das modalidades mencionadas deriva toda uma gama de modelos e subespécies discriminatórias, cuja existência sempre decorre de emergenciais interesses político ideológicos e econômicos. Essas subespécies são as atitudes racistas em seus traços mais visíveis, e os piores exemplos são o nazismo, o apartheid (ora formalmente eliminado) e o sionismo, que também por ironia histórica foi transformado em uma subespécie racista muito eficiente. Ao lado da modalidade ou subespécie ecológica, ainda em elaboração teórica, aí estão as mais perigosas manifestações de racismo do mundo moderno que, por isso, merecem as mais variadas e polêmicas interpretações, inclusive a recente concepção histórico-filosófica de se elaborar um discurso não racista, oposta aos anacrônicos e convenientes discursos anti-racistas, dos quais se deriva uma das formas mais sutis de racismo, o neo-racismo do direito à diferença.
Nazismo – Mesmo abominado e repreendido pela Comunidade Universal e com seus crimes sentenciados e condenados pelo Tribunal Militar (TMI) de Nuremberg, o nazismo continua vivo, fundado sobretudo no chamado direito à diferença. É portanto inimigo da verdadeira democracia e não tolera qualquer iniciativa ou articulação política dos oprimidos, mormente do chamado Terceiro Mundo. Está por isso ao lado da “nova ordem” mundial, imaginada e forjada pelos homens do haver, que sonha, engendra e reproduz catástrofes, como um Estado Policial Econômico e Militar da Terra, no qual só os mais ricos possam comandar e manipular os interesses dos mais pobres. Depois da “destruição” do Muro de Berlim, essa “nova ordem” está construindo um novo muro, invisível, mas bastante palpável: o muro do racismo, da xenofobia e do neonazismo. Um muro da vergonha, que como um relógio digital está em todas as esquinas do mundo.
Sionismo – Movimento nacionalista judaico, cujo propósito era fundar um Estado na Terra Santa, como pátria do povo judeu. Fundado em 1897, o sionismo alcançou seu principal objetivo político com a criação, em 1948, do Estado de Israel. Desde então, concentrou-se em proporcionar ajuda financeira a Israel, sustentando imigrantes judeus de todo o mundo que para lá se dirigiram e educando judeus da diáspora. Segundo o jornalista e jurista russo Vichinsky Mikhail Pavlovitch (16), o que se justificava como instituição de efetivo estudo, defesa e resgate da cultura judaica foi transformado “numa doutrina oficial de arbitrariedade e aventuras militares incessantes dos círculos dirigentes de Israel no Próximo Oriente”. Além disso, o que dizer dos muitos anti-semitismos através da história? Recentemente, com a ajuda de alguns países, árabes e judeus assinaram um acordo de paz. Apartheid – Com a recente eleição de Nelson Mandela à presidência da África do Sul, o apartheid vira uma triste lembrança de uma variante moderna do nazismo, no que ele tinha e tem de mais abominável. Em língua holandesa e em sentido político ideológico, significa separação, ou anacrônica manutenção da supremacia de uma aristocracia branca, baseada numa rígida hierarquia de castas raciais, para as quais existe uma correlação direta entre a cor da pele e possibilidades de acesso aos direitos e ao poder social e político. Ainda, como o define mestre Aurélio, apartheid “é o sistema oficial de segregação racial praticada da África do Sul para proteger a minoria branca”. Suas raízes fazem parte do desenvolvimento histórico da sociedade sul-africana, com a chegada (1692) e a expansão dos europeus, que passaram a discriminar e eliminar as populações autóctones .
A grosso modo, eram 25 milhões de negros segregados e dominados militar, cultural, econômica e tecnologicamente por 5 milhões de brancos! Por quê? Porque o racismo foi transformado numa teoria – mesmo sem qualquer fundamento científico – que tentava preservar a unidade de uma raça, supostamente superior, numa nação. Nelson Mandela é, precisamente, o maior exemplo de resistência contra essa miséria imposta aos negros sul-africanos, repudiada pelo mundo.
Racismo ecológico ou ambiental – É a modalidade ou subespécie mais recente de discriminação – ecológica, racial, econômica, política, social, tecnológica etc. – contra a “Mãe Terra”, seus ecossistemas e, sobretudo, os povos mais pobres. Surge no contexto do fim da Guerra Fria e da nova concepção histórica do mundo ocidental, polarizado entre os ricos do Norte e os pobres do Sul. Decorre da nova divisão política do mundo, de acordo com a qual os valores mais caros à existência humana e à vida em geral dependem do respeito ao meio ambiente. A ecologia é o axioma desse novo tempo. A Rio-92 apresentou dados que apontam uma nova visão de mundo: 60% da população pobre, de maioria negra, vivem em áreas ecologicamente vulneráveis do planeta: terras áridas ou pouco produtivas, topos de montanhas, mangues, pântanos; nos centros urbanos, morros e lugares inadequados para a construção de moradias; no meio rural, onde dependem da natureza para sobreviver, são desestruturados por modelos de desenvolvimento predatórios, baseados na busca do lucro a todo custo e na exploração desenfreada dos recursos naturais, de acordo com os interesses do Norte. Com a “prática da descarga desproporcional dos resíduos tóxicos e perigosos” (18), o racismo ecológico, além de se efetivar contra a “Mãe Terra”, atinge diretamente as nações e comunidades do Terceiro Mundo, os “pobres do Sul”.
Racismo à brasileira – Nas Américas e pelo mundo afora, talvez seja este o racismo mais sutil e disfarçado. Aliás, de tão estereotipado e hipócrita, deixa a impressão de nem sequer existir. Ironicamente, pode ser chamado de “democracia racial”, como se nada justificasse combatê-lo. O povo negro, por exemplo, tem sido transformado em assunto de laboratório e tema para ser usado como material de estudo, sobretudo nos meios acadêmicos, onde se fala em “preconceito de marca”, como se, através da “marca” (preconceito contra a cor, modelo estético) não se atingisse a origem (preconceito racial). A recusa seria então somente ao elemento físico, à cor, ao fenótipo, e a origem estaria salva! Essa tese, porém, não retrata a verdade, não passa de uma bem-engendrada e perenizada desculpa com a qual se tenta justificar e, por efeito, negar a existência do racismo, quando o real e incontroverso é o fato de que sempre houve um repúdio, uma dissimulada, mas inegável, recusa ao povo negro. Aliás, num país onde a cor branca ainda é atestado de boa conduta, dissimular o racismo vem sendo uma das suas principais táticas e estratégias. Tem razão o escritor Abdias do Nascimento ao asseverar que o racismo no Brasil toma as cores de um camaleão. Tanto toma a forma do paternalismo, da cordialidade, da benevolência, da boa vontade, como se denomina mestiçagem, aculturação, assimilação. Na verdade, é bem eficiente nos seus objetivos.
* Escritor, professor da Fundação Universitária de Mineiros (FIMES), membro do Movimento Negro Unificado (MNU), advogado e conselheiro da OAB de Goiás, onde coordena a comissão do meio ambiente.

Texto extraído do Site - www.fmauriciograbois.org.br/

Os Faraós negros

O Egito foi, ao longo de sua história, alvo de diferentes processos de unificação e invasão. Ao contrário do que usualmente estudamos, essas invasões ocorreram durante outros momentos anteriores à dominação dos romanos no século I ou das nações européias no século XIX. Dessa maneira, as crises e hegemonias no interior da civilização egípcia é um assunto ainda pouco explorado pelos estudos historiográficos.
Na região sul do Rio Nilo, atual Sudão, um antigo império se formou no período em que o Egito vivia um período de decadência no Médio Império. Entre os séculos XVIII e XVI a.C., os núbios realizaram a expansão de suas fronteiras na região do extremo sul do Rio Nilo. O Egito, que dependia da exploração de zonas de exploração aurífera próximas ao Império Núbio, sentiam que a ascensão de um vizinho tão poderoso poderia vir a ameaçar a integridade de seus territórios.
Dessa forma, entre os séculos XVI e XIII a.C., o Egito realizou um processo de invasão e domínio sobre os núbios. Sem adotar uma política muito opressiva, os egípcios trouxeram à civilização núbia vários de seus costumes e hábitos. O que parecia ser um claro processo de aculturação dos egípcios sobre os núbios, veio mais tarde garantir a preservação de traços importantes da civilização egípcia. No final do século VIII a.C., o Egito estava politicamente fragmentado e sofria o controle dos líbios.

Em 770 a.C., Piye, rei da Núbia, empreendeu uma investida militar que reunificaria politicamente o Egito. Partindo com tropas para o norte, o exército núbio chegou à cidade egípcia de Tebas. Travando batalhas ao longo de quase um ano, Piye tornou-se o primeiro faraó negro do Egito. A ascensão de faraós negros no Egito trouxe à tona a supremacia de uma civilização africana que questionava as idéias dos pensadores e historiadores do século XIX, que colocavam os povos africanos enquanto sinônimo de atraso.

No ano de 715 a.C., Piye faleceu, deixando o trono sob o domínio de seu irmão Shabaka. Ascendendo ao poder, Shabaka assumiu o nome de faraó Pepi II. Entre suas principais ações, Pepi II empreendeu um notório conjunto de obras públicas. A cidade de Tebas, capital do Egito, e o templo de Luxor ganharam novos projetos. Em Karnak, ordenou a construção de uma estátua em sua homenagem e tratou de construir diques que impedissem a inundação das casas das populações que viviam às margens do Rio Nilo.

Preocupados com o avanço do Império Assírio, que na época viva a ampliação de seus domínios, os núbios formaram um exército que deveria conter a dominação assíria sobre as cidades de Eltekeh e Jerusalém. Apesar de não existirem detalhes mais claros sobre essa batalha, relatos dão conta de que o então rei assírio Senaqueribe recuou suas tropas, dando vitória à aliança militar dos hebreus e núbios. Segundo alguns historiadores, graças à contribuição militar núbia, a civilização judaica usufruiu de um longo período em que consolidou suas principais tradições culturais e religiosas.
Depois desse episódio, houve a consolidação do reinado de Taharqa, filho de Piye. Em seu governo, as vitórias militares garantiram grande estabilidade aos territórios egípcios. Além disso, uma seqüência de generosos períodos de chuva deu tranqüilidade a toda população por ele controlada. Aproveitando do período de prosperidade, Taharqa realizou a ampliação do templo de Amon. No monte Jebel Barkal, onde acreditava-se ser o local onde o deus Amon haveria nascido, Taharqa ordenou a construção de dois templos aos pés do monte.
Durante seu governo, os assírios afrontaram mais uma vez a dinastia núbia. Sobre o comando do rei Esarhaddon, os assírios tentaram obstruir o entreposto comercial egípcio às margens do Líbano. Confiante na prosperidade de seu reino e na força de seus exércitos, Taharqa enviou tropas incumbidas de aniquilar a ação militar assíria. Oferecendo grande resistência, os assírios venceram a batalha e invadiram o Egito, em 674 a.C.. Nos anos seguintes os assírios empreenderam novas vitórias que ameaçaram a dinastia dos faraós negros.
As investidas dos militares assírios foram estabelecendo o fim do reinado de Taharqa. Recuado para o sul, o último rei da dinastia núbia se viu obrigado, logo em seguida, a abandonar o Egito. Depois de perder o controle sobre o Egito, pouco se sabe a respeito dos últimos dias do rei Taharqa. Seu corpo foi enterrado em uma pirâmide em Nuri, às margens do rio Nilo. Com o fim dessa dinastia, a cultura egípcia ainda preservou características provenientes do contato com esse reino africano.
(TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.HISTÓRIADOMUNDO.COM.BR)

Civilização Egípcia